terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A DESconstrução imobiliária de Belém


Era ele que erguia casas, onde antes só havia chão.
 Como um pássaro sem asas ele subia com as asas que lhe brotavam da mão.
 Mas tudo desconhecia de sua grande missão: Não sabia por exemplo
 que a casa de um homem é um templo, um templo sem religião,
Como tampouco sabia que a casa que ele fazia,
 sendo a sua liberdade era a sua escravidão.

De fato como podia um operário em construção, compreender porque um tijolo 
valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava com pá, cimento e esquadria.
Quanto ao pão, ele o comia, mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia com suor e com cimento

Erguendo uma casa aqui adiante um apartamento...

(Operário em construção, Vinícius de Moraes)



Há pouco mais de um mês alguns amigos e eu, saímos pela madrugada de Belém tentando encontrar algum lugar que pudesse servir de palco para nossos calorosos, politizados, polêmicos, mas esperançosos debates. Não queríamos qualquer lugar, nem qualquer fundo musical, e na busca de harmonizar os debates, em meio as musicas de Chico Buarque, caçamos em vão um lugar no qual pudéssemos ver a aurora de nossa terrinha... Com isso percebemos o que não queriamos há muito tempo: Belém passa por um processo de DESconstrução (IMOBILIÁRIA), nossas mangueiras agora dão lugar os imensos prédios, se antes víamos as mangueiras que coloriam a aurora ou o horizonte alaranjado anunciando o fim de tarde, hoje os grandes prédios não deixam o sol se pôr, acinzentam a manhã, roubando a aurora de muitas pessoas, e dos trabalhadores da construção civil para sempre.

Tudo porque o processo de verticalização na capital do estado se deu de forma intensa, rápida, desordenada e através da super valorização do espaço, o mercado imobiliário especulativo faz com que hoje o metro quadrado mais caro do País, seja aqui. Os prédios são erguidos, mas tem mercado consumidor para seus altos preços? Há fiscalização de algum órgão competente? ou há algum órgão competente? e qual o papel do governo e da prefeitura nisso tudo?

Do Alto do meu "achismo científico", creio (Eu acho) que Engenheiros Civis entendem de fazer projetos de execução de obras e/ou grandes obras desde sua fundação até seu acabamento, quanto analise, interpretação e estudo de solo cabe a Geólogos, Geofísicos ou outros profissionais da área; as construtoras de Belém deveriam ser obrigadas a realizarem  EIA (Estudos de impactos ambientais) e/ou RIMA (Relatórios de impactos ao meio ambiente), pois alteram em cheio o ambiente que o cerca, ou seja, todo o centro de Belém. Hoje são muitas Dúvidas sobre a causa da tragédia ou especulações sobre o tamanho dela, mas tragédia é tragédia e por isso, a ciência deve servir pra desvendar as "máscara sociais", sua intervenção nesse caso deve servir para descobrir as causas e punir os culpados, só assim veremos se " a ciência serve a classe dominante pra acumular ainda mais ou serve a classe dominada pra avançar na luta por uma sociedade sem classes e sem opressão"...  

Entendo que o processo de verticalização Belém se deu e continua de forma trágica intensificando o caos no trânsito diário, aumentando a exploração da classe trabalhadora que cada vez mais é obrigada a trabalhar mais por menos, para garantir o lucro ganancioso das construtoras. Com esse desabamento fica claro quem dita a regra, quem tem o capital, e aos trabalhadores que geram a riqueza a eles só resta o vale transporte, a marmita e o fim... vivem com na música de Chico Buarque...

CONSTRUÇÃO


Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego


Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a unica
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público



Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado


                                                         (Chico Buarque)