segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Centenário do Poeta da Vila: Noel Rosa em sonho e prosa!

Outro dia sonhei que eu era Noel rosa. Foi incrível, conseguia escrever um samba poético, em meio a um trânsito louco, com dois ou "três apitos" dando o ritmo. Era como se eu tirasse um Samba da Cartola, vi que "o mundo é um moinho" e alguém dizia: "vai triturar teus sonhos tão mesquinhos, vai reduzir as ilusões a pó"; eu respondia: "deixe-me ir, preciso andar, vou por aí a procurar sorrir pra não chorar". Parecia uma "conversa de botequim" com muita "filosofia", "positivismo"... e de repente, fiquei "gago, apaixonado", meu "último desejo" era dar um "fita amarela" para "dama do cabaré", ai "esse amor que eu nunca esqueço e que teve seu começo numa festa de São João", parece "Feitiço... da Vila"...


Confesso que foi um sonho estranho, interessante, mas estranho. Poesia, filosofia, música, política junto, é "bom parar", parece "mais um samba popular". Entre um gole e outro tudo penso, um trago e outro nada falo (não pode ser eu, não bebo, nem fumo... até penso em tudo, mas falo demais também). Digo que "o amor vem por principio a ordem por base, o progresso é que deve vir por fim"... então alguém pergunta:

Onde está a honestidade?

Você tem palacete reluzente
Tem jóias e criados à vontade
Sem ter nenhuma herança ou parente
Só anda de automóvel na cidade...

E o povo já pergunta com maldade:
Onde está a honestidade?
Onde está a honestidade?

O seu dinheiro nasce de repente
E embora não se saiba se é verdade
Você acha nas ruas diariamente
Anéis, dinheiro e felicidade...

Vassoura dos salões da sociedade
Que varre o que encontrar em sua frente
Promove festivais de caridade
Em nome de qualquer defunto ausente...
 



E por ser "dono do meu nariz", "envio essas mal tratadas linha" "para me livrar do mal". "Por causa da hora", despertei. Vejo a "estrela da manhã", "o orvalho vem caindo", vi que "o sol nasceu para todos", foi aí que decidir "mudar minha conduta, eu vou pra luta,pois quero me aprumar. E agora eu pergunto: com que roupa eu vou?" "Que se dane", é só um sonho mesmo. Mas na realidade, na luta não importa a roupa, pode ser trapo ou farrapo, o importante é ter motivo para lutar, e isso tem de sobra, tanta corrupção e "verdade duvidosa", injustiça e desigualdade social, o que "estamos esperando". Agora, acordado, sei que sou diferente de Noel, nunca fui Noel, acho que nem sonhei com Noel, mas temos a mesma...

FILOSOFIA

O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia...



*No dia 11 de dezembro de 1910, nasceu Noel de Medeiros Rosa. Poderia ter sido médico, cursou até o segundo ano de medicina, e talvez hoje ninguém saberia que existiu um Dr. Noel de Medeiros Rosa. Mas, musicar a vida, poetizar a política e filosofar o samba, era o que corria em suas veias, foi o que falou mais alto. A escolha pelo samba o fez imortal, pois foi precursor do ritmo que fala da vida em sofrimento engarrafado em sorrisos, em saudades tragados  em cores, em  lágrimas prescritas em receitas de poesia. Em sua eterna malandragem, proliferou, e ainda prolifera, o samba, nunca o deixou órfão. Saiu das linhas acadêmica em vida, para aos 26 anos se tornar  o imortal Filósofo do Samba: Eterno Poeta da vila.

Aos camaradas Zaraia e Virgílio grandes  apreciadores do Samba.

4 comentários:

  1. Muito Bom Gilson, ficou bem criativa a construção dessa matéria. Gostei da homenagem ao nosso Noel Rosa! Que pra mim é sem duvidas o maior sambista que o Brasil teve.

    E pra você que fez essa arte lhe dedico um verso de Noel!
    "♫ Não tenho medo de grito, sempre fiz papel bonito, o que eu falo é bem pensado ♫"
    (NOEL ROSA)

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  2. Camarada,

    Gostei muito do texto, pois ele é bastante dinâmico e conexo. Me encantou a construção textual dele, a partir dos títulos das músicas e de trechos das letras.

    Fica aqui minha singela observação a cerca de seu texo. Também não sou noel , nem gilson, mas temos os mesmos sonhos...

    Há braços socialistas,

    Viga

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  3. Que liiiindo, Gilsinho!

    Sempre me emociono com as coisas que tu escreves!

    Tu não és Noel, mas podes tentar!

    Saudade imensa de ti!

    Beijoooos

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  4. Parabéns Gilson. Um execelente texto. Uma bela homenagem a Noel Rosa, nos mostrando a fina flor de sua obra.
    Vamos tomar essa cerveja...opa! Essa Coca ouvindo noel aqui em Belém.

    E o obrigado pela dedicatória.

    Há braços Socialistas!

    ZZZZZ

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